--
Destaquei vários trechos do seu texto, Mariana, porque de fato me identifico muito. A gente passa os três anos do ensino médio focando o vestibular (porque infelizmente a educação desse país funciona dessa forma) e, quando a gente consegue o que quer, o que vem a seguir é ainda mais difícil.
Passei no vestibular ano passado, pra federal e pra estadual de Pernambuco, ambas pra Letras. Optei a que fica mais longe de mim, a estadual, porque saio com habilitação em duas línguas. São quase 80 km de distância, se não um pouco mais. 60% dos alunos são da capital do Recife, ou região metropolitana. Todos nós pagamos por um transporte particular que nos pega em determinado ponto e nos deixa nesse mesmo ponto, alguns (pagando mais caro) deixam até em casa. Escolhi este último, porque onde moro é bastante perigoso. Chego de 00:00 em casa. Meu horário se divide em: 16:40 pego o transporte pouco perto de minha casa. Chego na universidade às 19:10, às vezes às 19:00. Todos os transportes chegam na universidade às 19:30, que é justamente o horário que as aulas começam. As aulas terminam às 21:30, que é o horário que os transportes estão saindo. Nos dias de prova é uma luta. Quando bate 21:00, todo mundo fica nervoso, os professores nos apressam (a maioria mora em Recife e os ônibus deles saem às 22:00) e muitas vezes não conseguimos terminar a prova da forma que queríamos. E ah, o valor do transporte, pra assustar, é 300 reais por mês. Exatamente. Além dos livros, xerox, janta diária (disfarçada) e os ônibus de linha (para os que não pagam pelo transporte que deixa em casa).
Estamos todos sujeitos a acidentes, principalmente em dias chuvosos. Muitas vezes perdemos aulas por conta da chuva. E os assuntos vão se acumulando. As xerox são inúmeras. Os professores muitas vezes não têm noção de nossa situação. É extremamente difícil e sufocante, principalmente pra quem trabalha. No começo deste ano estava trabalhando pela parte da manhã. 9:00 às 15:00. Segunda à sábado. Saindo às 16:40 pra universidade, onde estava meu tempo pra estudar? Dentro do transporte. E o cansaço acumulado era tanto que à medida que eu lia, meus olhos se fechavam. Eu chegava em casa sem forças até pra preparar algo pra comer. Dormia com fome. Chorava antes de dormir, sufocado, com essa pressão em cima de mim, com todos os assuntos acumulados. Um horror. Foi então quando saí do trampo porque já não suportava mais.
Me imagino agora quando vierem os estágios, os grupos de pesquisas, as eletivas e etc. Tudo isto numa universidade a quase 80 km da minha residência, enfrentando várias dificuldades.
Então eu super te entendo, de verdade. O negócio é termos tempo para respirar, se não ficamos loucos. Todo o conhecimento é válido, mas quando as circunstâncias são péssimas e várias, tudo se torna mais difícil.