ilustração de Violeta Lópiz

interstício

alberto de lima

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eram riachos e arabescos serpenteando nos dias
me visitavam flores atávicas para lá das constelações
e diziam, noturnas, os deslizes destecidos

o mar crescia algum tipo
de angústia no oeste do peito

as palavras inelutáveis se desfarelam profusas
enxergo as sílabas se despedindo:
do conforto de algum cosmo estirado na placenta
é porque me deserto e a maré é uma criatura de segredos
o oceano não é nada mais que uma estampa
incrustada neste corpo viril, invadida neste enigma ilúcido

:: o interstício das águas sereias só são plumas

tratará de uns poucos fios ligados aos ventos
esta língua labiríntica que procura amena
o sabor dos tambores em ruelas estreitas

um sorriso é só
embriagamento
e mais nada

tem isto de transcendente nesta terra:
bananeiras, coqueiragens
miragens de outrora e indígenas
que destecem a certeza da vida
e confirmam que estes passos não são desvendados
porém amigos, íntimos, reencontrados

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